Tempo Rei em alto-mar: Gilberto Gil encerra capítulo histórico em uma travessia que uniu gerações e marcou a música brasileira
O Navio Tempo Rei, cruzeiro temático que levou a despedida de Gilberto Gil para o mar, encerrou sua travessia entre Santos e Rio de Janeiro reafirmando algo já sabido, mas raramente visto de forma tão clara: poucos artistas sintetizam a cultura brasileira com a profundidade, a delicadeza e o alcance de Gil. A bordo, entre 1º e 4 de dezembro, o MSC Preziosa se transformou em território simbólico, um espaço flutuante onde memória, afeto e música encontraram novo significado.
Nos dois shows realizados em alto-mar, Gil revisitou diferentes fases de sua obra l, do Tropicalismo à poesia pop, das canções de resistência às que se tornaram celebrações coletivas. Não houve tom de fim; houve continuidade. O público cantou como quem acompanha um artista que moldou décadas de imaginário cultural, enquanto Gil se apresentou com a leveza de quem entende seu próprio lugar na história.
A presença da família no palco, deu ao projeto uma camada íntima. Ali, a ideia de despedida ganhou outra interpretação: não um encerramento, mas uma passagem de bastão, um gesto de permanência.
Ao longo da viagem, convidados como Liniker, Nando Reis, Elba Ramalho, Os Paralamas do Sucesso, João Gomes e Gilsons criaram uma narrativa plural de Brasil. Mais do que reforçar o caráter festivo da programação, essas presenças revelaram o alcance transversal da obra de Gil: um compositor cuja influência atravessa gêneros, gerações e geografias.
Em cada show, o que se viu não foi apenas homenagem, mas diálogo. Artistas que cresceram sob sua influência devolveram ao palco interpretações que ressignificaram repertórios clássicos.
A escolha do oceano como cenário não foi estética: foi simbólica. A parada no Rio de Janeiro, transformou o show em um retrato raro, Gilberto Gil cantando diante de um dos cenários mais emblemáticos da música brasileira, em um gesto que uniu paisagem e legado.
Para a PromoAção, empresa responsável pela realização do cruzeiro ao lado das produtoras do artista, o Navio Tempo Rei registra um feito importante: traduzir uma turnê de despedida, por si só histórica, em experiência imersiva, estruturada e esgotada. O projeto se soma ao portfólio de cruzeiros que elevam o padrão nacional de eventos musicais em alto-mar, consolidando o modelo como plataforma cultural relevante.
Ao fim da viagem, permaneceu a sensação de que o Navio Tempo Rei não foi apenas um evento, mas um rito. Um encontro entre artista e país em um momento de transição. Uma celebração que não encerra uma obra, mas reafirma sua permanência.
Gilberto Gil voltou à costa, e o Brasil voltou a cantar com ele.

