Saúde

Médicos e Dentistas podem perder até R$ 1,6 milhão por falta de gestão financeira em clínicas, aponta especialista

A mistura entre finanças pessoais e empresariais é um dos erros mais comuns entre profissionais da saúde e pode comprometer a sustentabilidade do consultório. Mentora alerta para os impactos e propõe soluções práticas.

Mesmo com a agenda lotada e um volume de atendimentos constante, muitos médicos e dentistas sentem que “algo não fecha” no final do mês. O consultório fatura, mas a conta bancária parece sempre no limite. O que acontece?

“É muito comum confundir o que é da empresa com o que é da vida pessoal”, explica Grazziela, mentora de carreira e vida à frente da Up Coaching Consultoria. “E quando isso acontece, a gente perde a clareza. Não sabemos se o consultório realmente está indo bem ou se só estamos rodando em círculos.”

Essa é uma realidade mais comum do que se imagina. Segundo dados da MedConsulting, clínicas que não organizam bem suas finanças chegam a perder entre 10% e 30% do faturamento mensal por falta de controle. Em uma carreira de décadas, isso pode representar uma diferença de mais de R$ 1,6 milhão.

A raiz do problema, muitas vezes, está na mistura entre o CPF (finanças pessoais) e o CNPJ (o que é da clínica). “É como tentar organizar a casa e o trabalho no mesmo espaço sem nenhuma divisória. Fica tudo embolado”, diz Grazziela.

E isso não é culpa do profissional. O Brasil forma mais de 25 mil médicos por ano, segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), mas a maioria não recebe nenhum tipo de educação financeira ou empreendedora durante a graduação.

“É natural que o foco esteja no atendimento e no cuidado com o paciente. Mas, quando a gente decide empreender, mesmo sendo da área da saúde, precisa aprender também a cuidar do nosso negócio com carinho e atenção”, orienta Grazziela.

Ela conta que muitos de seus mentorados chegam com a mesma sensação: a de estarem “dando conta de tudo”, mas sem conseguir ver o resultado financeiro dessa dedicação. “E não é por falta de esforço. É só porque ninguém nunca ensinou a olhar para os números com leveza e estratégia.”

Por onde começar? Grazziela indica 4 passos simples:

  1. Separe as contas:
    “Abra uma conta bancária só para o consultório. Isso já traz mais clareza e evita confusão entre gastos pessoais e profissionais.”
  2. Defina um pró-labore:
    “Coloque no papel quanto você precisa ganhar por mês como profissional. Esse será o valor a ser transferido da clínica para a sua conta pessoal. Assim, você se remunera e ainda preserva o caixa da empresa.”
  3. Tenha ajuda especializada:
    “Um contador parceiro faz toda a diferença. Alguém que te ajude a pensar o negócio e não apenas a emitir boletos e guias.”
  4. Use ferramentas simples:
    “Pode ser uma planilha no início ou um sistema mais robusto depois. O importante é ter visibilidade: saber quanto entra, quanto sai e o que está acontecendo de verdade com as finanças.”

Para ela, o mais importante é tirar o peso da palavra “gestão”. “Muita gente ouve ‘controle financeiro’ e já pensa em dor de cabeça. Mas, na verdade, quando a gente aprende a olhar para isso com mais tranquilidade, tudo flui melhor. A clínica cresce, a renda melhora e a sensação de sobrecarga diminui.”

E finaliza:
“Separar o CPF do CNPJ é um ato de cuidado com você, com o seu consultório e com a vida que você está construindo. Pequenas mudanças geram grandes transformações.”