Juventude em risco: o impacto da violência urbana na saúde mental dos adolescentes
A rotina de medo, a exposição a episódios de agressão e a vivência cotidiana em territórios marcados pela criminalidade têm deixado marcas profundas na saúde mental de adolescentes brasileiros. Especialistas, dados recentes e relatos de escolas e serviços de saúde apontam que a experiência da violência — física, psicológica e virtual — está associada a aumentos de ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático e queda no rendimento escolar entre jovens. (Dados Agência Brasil).
A dimensão do problema
Um levantamento nacional divulgado em dezembro de 2023 indicou que mais de um quarto dos brasileiros entre 15 e 29 anos afirmaram ter sofrido alguma forma de violência — física, psicológica ou sexual. Esse recorte evidencia que a juventude está entre as faixas etárias mais afetadas. O impacto não é apenas imediato: a exposição precoce à violência compromete trajetórias escolares, redes de sociabilidade e a construção de projetos de vida.
Relatórios recentes sobre segurança pública e violência urbana (como o Atlas da Violência 2025) e estudos sobre saúde mental reafirmam a correlação entre contextos de insegurança e piora nos indicadores de bem-estar psicológico. Esses documentos trazem recortes por faixa etária e mostram que intervenções locais e intersetoriais são essenciais para interromper ciclos de vulnerabilidade. (Fonte: Ipea)
Como a violência atinge a saúde mental dos adolescentes
Profissionais de saúde mental e pesquisas apontam mecanismos claros: exposição direta a agressões, testemunho de crimes na vizinhança, vulnerabilidade econômica e rupturas nas redes familiares aumentam risco de quadros ansiosos, depressivos e traumas complexos. Escolas relatam queda de frequência, evasão e dificuldade de aprendizagem entre estudantes que vivem em áreas mais violentas; os serviços de atenção psicossocial percebem aumento de procura por transtornos relacionados à ansiedade e ao trauma entre jovens.
Dados oficiais e levantamentos mostram também uma ampliação da demanda por serviços: em 2025 houve aumento no número de crianças e adolescentes atendidos em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), apontando tanto o reconhecimento da necessidade quanto às lacunas de cobertura.
Quando vereadora, eu presidi a Comissão de Segurança da Câmara Municipal de São Paulo, durante parte do meu mandato, e apresentei diversas proposições ligadas à prevenção da violência e ao atendimento de vítimas. Entre meus projetos de destaque está a criação do Programa “Tempo de Despertar”, voltado à conscientização e responsabilização de autores de violência doméstica, com ênfase em ações educativas direcionadas a homens. A medida foi sancionada como lei municipal e tem relevância porque articula prevenção, responsabilização e trabalho com grupos reflexivos — elementos também importantes quando se pensa na prevenção da violência que afeta famílias e, por consequência, adolescentes.
Além disso, inclui proposições e debates sobre segurança comunitária e políticas públicas para proteção de grupos vulneráveis — o que abre espaço para políticas voltadas especificamente à juventude em risco, como programas de acolhimento nas escolas, articulação entre saúde e assistência social, e fortalecimento de equipamentos territoriais de proteção.
Eu tenho participado de muitos debates e rodas de conversas com interface entre segurança, direitos das mulheres e apoio a famílias. Sabemos que as políticas públicas existentes ajudam, mas possuem lacunas:
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) oferecem serviços de acompanhamento e reabilitação psicossocial e são referência para casos severos. No entanto, a distribuição é desigual e há estados com cobertura insuficiente para crianças e adolescentes. Ampliação e qualificação do atendimento específico para jovens são necessárias.
O Programa Saúde na Escola (PSE) — Política intersetorial que articula saúde e educação, com potencial para identificação precoce de sofrimento mental e ações de promoção da saúde nas escolas tem tido muitos avanços e mas também desafios na implementação, sobretudo em regiões vulneráveis. Fortalecer o PSE com equipes permanentes de saúde mental e protocolos de acolhimento para vítimas de violência amplia sua efetividade.
Iniciativas do governo e do Judiciário (como painéis sobre saúde mental no sistema socioeducativo) vêm aprimorando o diagnóstico e a visibilidade dos serviços — um passo importante para planejar políticas. Ainda assim, a integração entre segurança, saúde, educação e assistência social segue como desafio.
Com base em evidências e debates, vemos muitas propostas com potencial de reduzir o impacto da violência sobre a saúde mental de adolescentes: como a ampliação e interiorização dos CAPS infanto-juvenis — criar e financiar centros especializados em saúde mental para crianças e adolescentes em áreas com lacunas assistenciais, o fortalecimento do Programa Saúde na Escola com equipe fixa de saúde mental — psicólogos e assistentes sociais vinculados a redes escolares em territórios de risco para acolhimento, triagem e encaminhamento, apoio aos programas de prevenção em comunidade — oficinas socioemocionais, mediação de conflitos, atividades culturais e formação de lideranças juvenis para reduzir a exposição a riscos e ampliar repertórios de resolução não-violenta, uma rede integrada de respostas a crises — protocolos que articulem polícia comunitária, serviços de saúde e assistência social para atendimento rápido a adolescentes vítimas ou testemunhas de violência, com foco em proteção e cuidado psicológico imediato. (base: recomendações de estudos e organizações de saúde pública).
Importante também é a capacitação de professores e profissionais escolares — formação para identificar sinais de trauma, encaminhar adequadamente e reduzir estigmas sobre saúde mental.
As propostas existem em diferentes frentes, mas dependem de financiamento, vontade política e coordenação intersetorial. Minha experiência legislativa mostra que medidas locais e leis municipais podem criar espaços de ação; porém, sua aplicação precisa ser acompanhada por investimentos em serviços de saúde, educação e proteção social.A violência urbana é um fator estrutural que imprime danos duradouros à saúde mental de adolescentes. Para enfrentá-la, é preciso combinar políticas públicas já existentes com estratégias de expansão, integração e prevenção focalizadas nas escolas e comunidades. Projetos de lei e programas municipais de parlamentares engajados no tema, são importantes pontos de partida; a grande tarefa agora é traduzir proposições em serviços disponíveis, acessíveis e eficazes para os jovens que mais precisam

