Biodiesel brasileiro: de “solução” a sério problema para setores da economia, alerta vice-presidente da CNT
O setor de transportes, tradicionalmente um dos maiores consumidores de combustíveis fósseis, tem enfrentado desafios crescentes com a adoção do biodiesel no Brasil. Embora o discurso ambiental aponte para o biodiesel como uma alternativa sustentável, a realidade vivida pelas empresas de transporte revela um cenário bem diferente – e para pior.
O alerta sobre os efeitos negativos do biodiesel no desempenho dos veículos e na economia do setor foi feito pelo vice-presidente da Confederação Nacional de Transportes (CNT), Eudo Laranjeiras, durante entrevista concedida ao jornalista Cândido Nóbrega:
“Longe de ser uma solução, o biodiesel brasileiro, que é de péssima qualidade, está se mostrando um problema sério”, afirmou, e lembrou que a mistura dele no diesel comum já está afetando o funcionamento dos motores e aumentando os custos de manutenção. Estudo realizado pela CNT em parceria com universidades e montadoras indica que o limite seguro para a mistura segura seria de 10% ou no máximo 12%, ou seja, acima disso, os impactos começam a ser sentidos de forma expressiva, com aumento na troca de filtros, falhas em bombas injetoras e maior frequência de manutenções.
Aumento de consumo e de gases poluentes
Eudo destacou que além dos problemas mecânicos, o biodiesel brasileiro não cumpre a promessa de reduzir as emissões de poluentes. “Ele polui mais do que qualquer ônibus ou veículo com diesel normal, porque o biodiesel aumenta o consumo de combustível, o que, paradoxalmente, eleva as emissões. O discurso de que o biodiesel melhora a qualidade do ar é ‘um engodo’. No percentual atual, o biodiesel está, na verdade, piorando a qualidade do ar”.
Ele acrescentou que o Brasil, ao contrário de outros países, tem adotado uma política de mistura de biodiesel que vai além do que seria considerado seguro, pois enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, apenas um estado chega a adotar uma mistura de 15% a 20%, a grande maioria dos países não ultrapassa 10%, com percentuais comuns entre 7% e 8%.
“E nós, que somos os maiores consumidores de diesel, não somos consultados”, lamentou, verbalizando a insatisfação do setor com a falta de diálogo sobre a qualidade do biodiesel no Brasil.
Dependência desinteligente do diesel
Outro ponto de preocupação levantado por Laranjeiras é a dependência de termelétricas movidas a óleo diesel, mesmo em regiões com grande potencial para energias renováveis, como o Nordeste, que possui vastas áreas para geração de energia eólica. “É muito ruim que o Brasil dependa ainda disso”, declarou, referindo-se àquelas que continuam operando em um país com tantas alternativas energéticas, como as existentes nos estados da Paraíba, Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará.
Revisão de políticas atuais
Eudo Laranjeiras fez um apelo para que o governo adote uma postura mais responsável em relação à política de biodiesel, por considerar imprescindível que o setor de transportes seja ouvido e que soluções reais, e não paliativas, sejam implementadas, já que o biodiesel de má qualidade está atrapalhando o setor e apontou para a necessidade de uma revisão urgente das políticas atuais.
“O setor de transportes, que já enfrenta inúmeros desafios logísticos e econômicos, não pode arcar com os custos de uma solução que, ao invés de ajudar, está comprometendo a eficiência e a sustentabilidade das operações. O que o governo federal precisa entender que não se pode fazer a coisa irresponsavelmente, A medida em que o biodiesel hoje está atrapalhando o setor, quando o senhor ou a senhora olha lá e vê um monte de ônibus quebrados nas ruas, parados, muitas das vezes o que entupiu é o biodiesel de má qualidade”, concluiu.