Água em risco: Simões Filho e toda a Região Metropolitana de Salvador precisam agir agora
O Aterro Sanitário de Simões Filho (CTVR), operado atualmente pela Recycle Waste Energy (antiga Naturalle), está situado em uma área de extrema sensibilidade hídrica e ambiental — no entorno da APA Joanes-Ipitanga, unidade de conservação criada para proteger mananciais que abastecem Salvador, Simões Filho, Lauro de Freitas, Camaçari e outros municípios da Região Metropolitana de Salvador. A própria literatura e fontes públicas destacam que a APA foi instituída para ordenar atividades humanas justamente por causa da importância da água subterrânea e dos reservatórios que atendem a Região Metropolitana de Salvador.

Por que o risco é tão grave?
• Aquíferos estratégicos para o abastecimento — O sistema de água da capital e da Região Metropolitana de Salvador depende de mananciais superficiais e subterrâneos integrados no Sistema Integrado de Abastecimento de Água de Salvador, Lauro de Freitas e Simões Filho (SIAA-Salvador). Estudos e relatórios oficiais apontam a expansão do uso de poços na região como estratégia de segurança hídrica, dado o crescimento populacional e a variabilidade climática. Qualquer contaminação do lençol freático impacta diretamente a resiliência do abastecimento de milhões de pessoas.
• APA Joanes-Ipitanga — A unidade de conservação (com dezenas de milhares de hectares) abrange Simões Filho e outros municípios da Região Metropolitana de Salvador e existe para resguardar aquíferos e mananciais. Atividades de alto potencial poluidor devem observar regras rígidas e a anuência do conselho gestor, justamente para evitar riscos de chorume percolar e atingir águas subterrâneas. Denúncias recorrentes da sociedade civil dão conta de incompatibilidades do empreendimento com os objetivos da APA, inclusive sem anuência do conselho em determinados atos de licenciamento.
• Aquífero São Sebastião (reserva estratégica) — Matérias recentes alertam que a instalação e operação do aterro em Simões Filho ameaçam o Aquífero São Sebastião, descrito como uma das maiores reservas de água potável da Bahia, peça-chave para o abastecimento da Região Metropolitana de Salvador. Em termos simples: se esse aquífero for comprometido, todos perdemos — famílias, escolas, hospitais e a economia local.
O que aconteceu no licenciamento?
• Histórico controverso — Em 2018, o órgão ambiental estadual (INEMA) indeferiu o pedido de licença para o empreendimento na área da APA Joanes-Ipitanga, após forte mobilização social e técnica. Posteriormente, o processo foi revertido e o aterro recebeu licenças estaduais, com LP em 2019 e autorização de instalação em 2020; mais tarde, a Recycle Waste Energy sucedeu a Naturalle nas licenças (2022). Esses fatos acenderam alertas na sociedade civil e em lideranças políticas sobre possíveis violações de normas ambientais e fragilidades do processo, inclusive quanto a exigências específicas para unidades de conservação e comunidades tradicionais.
Por que isso importa? Porque regras de licenciamento existem para prevenir tragédias ambientais. Áreas de proteção e aquíferos não são “qualquer lugar”: são linhas de vida da Região Metropolitana de Salvador.
Quais os impactos temidos?
• Contaminação de água subterrânea por chorume (com metais pesados e compostos tóxicos), afetando poços, nascentes e reservatórios que integram o SIAA e as reservas estratégicas da região. Isso se traduz em doenças, custos públicos elevadíssimos de tratamento, perdas econômicas (agricultura, comércio) e danos ambientais de difícil reversão.
• Efeito cascata na segurança hídrica: com a Região Metropolitana de Salvador já planejando integrar mais poços e fontes subterrâneas, qualquer comprometimento desses mananciais reduz redundância e capacidade de resposta em crises de abastecimento.
• Risco institucional: denúncias de desconformidades no licenciamento dentro de unidade de conservação enfraquecem a confiança da população e exigem imediata verificação por parte dos órgãos competentes.
O que a população deve exigir agora
1. Auditoria técnica independente e imediata do licenciamento e das condicionantes, com participação do Conselho da APA Joanes-Ipitanga, Ministério Público e universidades.
2. Monitoramento transparente e 24/7 da água subterrânea e superficial (poços de monitoramento, piezômetros, cursos d’água), com divulgação pública dos dados em linguagem acessível.
3. Plano emergencial de proteção ao aquífero e às captações do SIAA, incluindo barreiras hidráulicas/reativas, revisão do sistema de drenagem e impermeabilização, e rastreamento de plumas caso haja indícios de percolação.
4. Cumprimento estrito das regras da APA e reavaliação da compatibilidade do empreendimento com os objetivos da unidade de conservação — se houver risco não mitigável à água, que se suspenda o funcionamento até a plena segurança hídrica e ambiental ser garantida.
Água limpa é vida. A Região Metropolitana de Salvador não pode aceitar qualquer empreendimento que ponha em xeque o Aquífero São Sebastião, os mananciais da APA Joanes-Ipitanga e o abastecimento de milhões. Cobramos fiscalização rigorosa e ação imediata do INEMA, EMBASA, Ministério Público e gestores municipais/estaduais para proteger nosso direito humano à água e à saúde. Compartilhe, marque as autoridades, pressione: quando a água é contaminada, não há “plano B”.