Economia e Negócios

Eletrobrás: Entrevista exclusiva com economista Marco Prado

No dia 27 de Maio (sexta-feira), a Eletrobrás lançou o aviso da sua oferta pública de ações após a entrega de todos os documentos necessários. Esse é o passo crucial para que a empresa, enfim, possa ser privatizada. O início das negociações das ações ofertadas será realizada no dia 13 de junho no Brasil e no exterior simultaneamente.

Eletrobrás
Foto:reprodução/Instagram

A previsão é de que sejam movimentados cerca de R$30 bilhões nesta operação somente na oferta primária, sem contar com o lote adicional de até 15% do total das ações. Vale dizer que a oferta primária será de 627.675.340 novas ações da empresa. Também será feita uma oferta secundária de ações já existentes da empresa, e ainda ações ordinárias (ações com direito a voto).

A privatização da empresa de energia, que já está nesse segmento há décadas, parece representar um passo significativo para a economia do Brasil. Para o público geral, no entanto, restam algumas dúvidas quanto a efetividade dessa privatização, o risco e rentabilidade das ações oferecidas pela empresa,

E os desafios que estão por vir para que esta possa se manter firme após essa transformação. O Notícia Séria Brasil, portanto, realizou uma entrevista exclusiva com o economista Marco Prado Kim, profissional com mais de 30 anos de experiência no mercado financeiro e operador na bolsa de valores.

De antemão, o primeiro questionamento seria quanto a relevância da privatização da empresa para o país. Apesar de “privatização” ser uma palavra muito usada no meio político e econômico no contexto atual do Brasil, muitos não sabem como ela o impacta. Seja de forma negativa ou positiva.

A privatização da Eletrobrás é um passo relevante para o Brasil? Por quê?

“A privatização da Eletrobrás é importante não só pela entrada de cerca de 30 bilhões de reais, mas também por ser hoje uma estatal que não é autossuficiente no diesel. O Brasil é um exportador de petróleo, mas a gente importa diesel. Então, esse talvez seja o primeiro passo importante, pois estamos em um momento muito difícil, com a possibilidade de uma paralização geral por conta de falta de diesel no país.

Então, acho que a privatização da Eletrobrás vem em um momento crucial. Vale ressaltar que essa privatização já estava para ser feita em governos anteriores, porém não priorizaram até este momento por questões políticas, portanto agora temos uma boa oportunidade.”

Ainda, Marco explica como este passo poderá afetar a economia do país no cenário atual, se for feita da maneira prevista.

Como a privatização da Eletrobrás afeta a economia do nosso país?

“Primeiramente, a gente tem uma entrada muito significativa de recursos através de câmbio, principalmente internacional. Essa quantidade de dinheiro que entrará pode impactar o dólar. Então, num primeiro momento, o dólar cairia com essa entrada de recursos.

A partir daí, podemos pensar em uma diversidade de fatores positivos, como competitividade do nosso combustível perante aos principais países produtores de petróleo, os países da Opep; e geração de empregos. Criar concorrência internacional no segmento de combustível é completamente saudável e apropriado para o país.”

Essa oferta de ações não tem chamado a atenção somente de grandes investidores e veteranos que já operam na bolsa de valores. Muitos estão buscando um espaço nesse evento. Tanto que, recentemente, diversos bancos e instituições se disponibilizaram para os trabalhadores que desejam utilizar o dinheiro do FGTS para essa finalidade.

Eletrobrás
foto:reprodução/instagram

Diante de todo esse alarde, é preciso tomar cuidado e avaliar se as ações da Eletrobrás serão, de fato, uma boa oportunidade ou uma aposta arriscada.

Essa oferta de ações da Eletrobrás é uma boa oportunidade para investidores acionistas? Quais seriam os riscos de entrar de cabeça nesse projeto?

“Energia está realmente em alta hoje em dia. Devido a escassez de combustível consequente à guerra da Ucrânia e Rússia, os países estão prestando muita atenção nisso (na energia). Essa escassez de combustível faz com que ele suba de preço e as empresas desse segmento acabam lucrando mais.

Nesse sentido, a gente tem o exemplo da Petrobrás que, com a explosão do petróleo, tem tido lucros expressivos. Isso é muito bom para os acionistas que entram buscando dividendos, que é a participação nos lucros da empresa.

No entanto, vale lembrar que é renda variável. O mercado de renda variável não tem uma rentabilidade predefinida, pode subir ou cair. Mas, na minha opinião, as ações da Eletrobrás seriam uma boa opção para quem pretende conseguir bons dividendos ou até mesmo espera que a ação se valorize.”

A Eletrobrás tem bons fundamentos para ser considerada uma opção interessante para investidores apostarem nela a médio ou longo prazo?

“Por si só, o setor de energia já é um bom investimento, dado o momento que o mundo tem vivido nessa guerra entre Rússia e Ucrânia. Duas coisas que estão sendo muito visadas pelos chefes de estado atualmente são o alimento e a energia, visto que a Ucrânia é um grande exportador de grãos, e a Rússia alimenta principalmente a Europa com gás natural e petróleo (ambos têm dificuldades em exportar produtos devido ao cenário de guerra). Então, o setor de energia vai ter uma evolução muito significativa. A gente pode evoluir em 5 anos, o que demoraríamos 50 anos para evoluir. Portanto, qualquer ação no setor de energia é bem vinda numa carteira de ações no médio e no longo prazo.

Dessa forma, claro que a Eletrobrás, que está vivendo esse momento de possível transformação, poderia ser uma boa oportunidade; principalmente porque o setor agrícola do Brasil está sendo muito visado no mercado internacional, então o setor de energia deve entrar de carona nesse movimento.”

Quando fala-se de uma grande oferta de ações como esta e a privatização de uma empresa, ficamos com o pé atrás quando pensamos sobre o quanto os problemas atuais poderiam impactar nisso.

Estamos passando por um momento difícil globalmente, com tensões geopolíticas, aumento das taxas de juros nos EUA, e o lockdown na china. Esses fatores aumentam o desafio da Eletrobrás de fazer uma boa entrada no mercado?

“Preocuparia se estivéssemos falando de uma inflação local no Brasil. Mas embora a inflação esteja em um patamar alto, seu aumento ainda é muito inferior em comparação com outros países de primeiro mundo, como os EUA e o bloco Europeu. Temos também o Lockdown na China… mas ainda acho que o maior desafio da Eletrobrás seria Brasília,” afirmou Marco Prado.

“Além disso, a energia tem impulsionado o preço da inflação. A gente tem uma energia mais competitiva e mais barata, e isso com certeza entraria na cesta de IPCA 15, e diminuiria uma projeção de inflação.

Então acho que esse é o melhor momento para uma privatização em todos os aspectos, seja para receita de capital, perspectiva de inflação ou diminuição do preço da energia.”

Quando questionado sobre o porquê Brasília ser considerado o maior desafio da Eletrobrás o economista respondeu: “Pode surgir muita judicialização para inviabilizar o processo.”

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Marco Prado Kim é economista e trader profissional. Atua no mercado financeiro por mais de 30 anos. É host do podcast tudo ou nada, junto com Vinicius Fuzikawa, e produz ativamente contéudo sobre mercado financeiro, investimentos no geral, e bolsa de valores.

Um comentário sobre “Eletrobrás: Entrevista exclusiva com economista Marco Prado

  • Nada como a opinião isenta de um especialista que entende do mercado, parabéns

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