Saúde

Como a revolução tecnológica na oncologia pode transformar o sistema de saúde nos próximos anos

A oncologia vive uma de suas maiores transformações desde a criação da quimioterapia. O avanço de terapias de precisão, o uso crescente de inteligência artificial e a consolidação de equipes multidisciplinares estão alterando não apenas a forma como o câncer é tratado, mas também como os sistemas de saúde públicos e privados precisam se organizar para atender uma população que envelhece rapidamente.

O desafio, afirmam especialistas, é garantir que essa revolução tecnológica seja acompanhada por modelos de gestão capazes de expandir o acesso, evitar sobrecarga financeira e manter o cuidado centrado no paciente.

O oncologista Jorge Abissamra Filho (CRM-SP 145.307), membro titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), observa que o país atravessa um momento decisivo.
“Estamos vendo avanços importantes em diagnóstico e tratamento, mas a sustentabilidade continua sendo um ponto central. A tecnologia só faz sentido se ela chega ao paciente e se o sistema consegue absorver e garantir viabilidade econômica a essas tecnologias e esses recursos a longo prazo”, afirma.

A incorporação de ferramentas de inteligência artificial dentro dos hospitais e clínicas já começa a mudar rotinas. Softwares auxiliam na interpretação de exames, identificam padrões que podem acelerar diagnósticos e ajudam médicos a definir estratégias mais precisas para cada caso. Abissamra ressalta que, apesar dos benefícios, essa evolução exige responsabilidade. “A IA amplia nossa capacidade de análise, mas o uso deve ser criterioso e sempre alinhado às necessidades do paciente e fiscalização humana.”

A expansão desse cenário também aumenta a necessidade de integração entre áreas como genética, radiologia, nutrição, psicologia e fisioterapia. Modelos de atendimento que combinam acompanhamento emocional e físico têm mostrado impacto direto na resposta ao tratamento e na qualidade de vida dos pacientes.

Outro ponto sensível é a distribuição desigual desses recursos pelo país. Enquanto grandes centros urbanos já contam com terapias de última geração, cidades menores ainda enfrentam limitações por falta de recursos. Para o oncologista, o debate sobre acesso deve acompanhar cada inovação. “A tecnologia precisa chegar a todos, porém é importante entender se o sistema de saúde consegue custear todas essas inovações. Precisa fazer um equilíbrio entre inovação e custo para que o acesso possa chegar ao paciente. A descentralização é essencial para garantir equidade no cuidado.”

Especialistas estimam que a demanda por tratamento oncológico continuará em crescimento nas próximas décadas. Com isso, o sistema de saúde será cada vez mais pressionado a equilibrar inovação, custo e eficiência, três pilares que devem orientar a estruturação dos serviços no futuro.

O avanço tecnológico é irreversível. A questão agora é como transformar essa evolução em políticas e práticas que ampliem o cuidado, reduzam desigualdades e preparem o país para um cenário em que o câncer será, cada vez mais, uma condição crônica que exige acompanhamento contínuo.