Avalanche de custos ameaça o desempenho do transporte de cargas em Minas Gerais
Setcemg alerta sobre os rumos do setor mediante desoneração da folha de pagamento e aumento dos encargos trabalhistas
O setor de transporte rodoviário de cargas enfrenta uma escalada nos custos operacionais impulsionada por medidas recentes que têm gerado preocupação entre empresários e suas entidades representativas. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), entre os fatores que mais pressionam as planilhas estão o fim da desoneração da folha de pagamento, o aumento nos reajustes salariais definidos em convenções coletivas, o aumento da mistura de biodiesel no diesel, o impacto das mudanças da Lei do Motorista e novas exigências com seguro de carga.
A reoneração da folha, que vinha sendo postergada nos últimos anos, marcou o início de um ciclo de aumento de encargos trabalhistas, de acordo com o presidente do Setcemg, Antonio Luis da Silva Junior. “Para as empresas do transporte, cuja atividade é altamente intensiva em mão de obra, isso representa um impacto direto na manutenção de empregos e competitividade”.
Estima-se que o fim da desoneração resulte em um aumento médio de 1,5% nos custos imediatos, podendo chegar a quase 5% até 2028, conforme projeções de especialistas do setor.
Indicadores mais recentes, divulgados pelo Setcemg, em parceria com a NTC&Logística e o IPTC, reforçam a pressão sobre os custos operacionais das transportadoras. Em maio de 2025, o Índice Nacional de Custos do Transporte de Cargas Fracionadas (INCTF) registrou variação mensal de 0,13%, acumulando alta de 5,59% nos últimos 12 meses. Já o Índice Nacional de Custos do Transporte de Cargas Lotação (INCTL) apresentou queda de 0,27% no mês, mas ainda assim acumula elevação de 4,49% no mesmo período.
O preço médio do óleo diesel S-10, principal insumo do transporte rodoviário, ficou em R$ 6,244 por litro, com variação anual de 0,24%. Apesar da estabilidade, o combustível segue representando parcela relevante dos custos fixos.
Outro impacto negativo para o setor foi a decisão anunciada pelo governo federal no dia 25 de junho de 2025, que oficializou o aumento da mistura obrigatória de biodiesel no diesel comercializado no Brasil, de 14% para 15%, a partir de 1º de agosto. “Já com a elevação da mistura para 14%, em março de 2024, empresas de transporte já vinham relatando problemas recorrentes, como o aumento expressivo dos custos de manutenção. Agora ficará pior”, aponta o presidente do Setcemg.
Estudo técnico da NTC&Logística aponta que o prazo de troca de filtros de combustível foi reduzido pela metade, resultando em um aumento de mais de 7% nos custos de manutenção por veículo e impacto superior a 0,5% no custo total das operações. Em frotas com 100 veículos, isso representa, ao longo de um ano, o equivalente ao valor de um caminhão novo.
As negociações coletivas realizadas em 2025 também impuseram reajustes significativos. Os salários de motoristas e trabalhadores da logística subiram cerca de 9%, enquanto as diárias de alimentação e pernoite chegaram a ter reajustes de 12,5%. “Esses aumentos, embora justos para a valorização dos profissionais, representam mais um peso no orçamento das transportadoras, especialmente as de pequeno e médio porte”, ressalta o presidente do Setcemg.
Outro ponto que tem gerado impacto financeiro, segundo o dirigente, são as novas obrigações ligadas ao seguro de carga. Em muitos casos, as exigências partem tanto da legislação quanto de exigências impostas por contratantes, o que obriga empresas a investirem mais em apólices específicas, monitoramento e gerenciamento de risco, elevando o custo fixo por viagem e pressionando ainda mais as margens já apertadas.
Para o dirigente é fundamental que haja previsibilidade no ambiente de negócios, para isso é importante o diálogo com o governo federal e o Congresso Nacional para mitigar os impactos sobre o setor. “As transportadoras são responsáveis por escoar a produção do país. Medidas que elevam seus custos sem uma política compensatória consistente acabam repercutindo em toda a cadeia logística e no preço final dos produtos ao consumidor”, enfatiza.
Por outro lado, o presidente do Setcemg diz que é preciso também uma relação de transparência entre transportadores e seus clientes.